domingo, 11 de junho de 2017

Crônica de um quase eu, um quase conto...


Prezado leitor, eis que a chama do ato de escrever novamente se inflamou e, devido a seus movimentos, me aciono também. Vou-me a vocês nesse domingo de sol e chuva, chuva e sol - variações de clima, variações na alma.

Até breve.



Crônica de um quase eu, um quase conto...

Chico Araujo
10-11/06/2017





Imagem capturada por Galaxy Gran Prime Duos SM-G530H, versão Android 5.0.2.

Foto realizada por Chico Araujo em 11/06/2017.



Eu não tenho certeza de que ele me sabia ali, observando-o atentamente, quase em perfeita onisciência. É, eu realmente não posso afirmar sua plena percepção de me saber ali, com ele, acompanhando, estudando, analisando, interpretando seus movimentos, gestos, olhar, sensações, sentimentos, pensamentos... Não, asseverar não posso. Mas por que vez por outra investigava as dimensões em que se encontrava? Parecia saber-me lá também.
Ele não somente olhava de novo e mais algumas vezes pela janela – o mundo correndo lá fora, naquelas ruas levando, evidentemente, a lugares outros (por que não se pôr a passos por elas?); também se agitava pelo canto do olho por variados cantos, numa inquirição voraz, suspeitando a observação – eu enredava.
Aquele seu olhar em repetidas insistências por aquela janela quase denunciavam, explicitamente, a necessidade profunda de por ela ficar se indagando; sim, porque quando além dela se lançava – permanecendo no mesmo lugar, sem se arredar – transitava por dentro do "eu" que ele acreditava estar posto nele em algum lugar de dentro do qual deveria emergir em emergência sob pena de...
Eu ficava tão próximo a ele nessas horas que quase nele tocava, traindo minha presença bem junto a ele, de tal maneira que as angústias porventura sentidas não eram em um, mas em dois, a expansão do um... Se o tocasse estaria descoberto de acompanhá-lo... Talvez, então, findasse a busca pelo que buscava... Talvez (O bicho homem é esquisito, nunca se contenta, sempre se põe ávido por mais e mais – algumas vezes (muitas?) sem ter precisão)... Mas descerrar cortinas nem sempre revela o que lhe há por trás; cortinas franqueadas podem expor breus...
Sei que ele estava, enquanto atravessava o olhar pela janela, investigando ruas longas que não estavam exatamente além dela. Quanto mais seus olhos se alongavam para fora mais o seu olhar queria era percorrer caminhos que lhe estavam dentro. Feito um intruso, eu o espreitei sem qualquer sutileza, tamanha a inquietação dele me alterando a perspectiva. De novo tive a sensação, agora mais forte, de que já houvera sido descoberto; ele dava a entender saber de minha presença ali bem perto. Contudo, se de fato sabia, estava brincando comigo, pois não permitia nenhuma certeza.
Agora mais afastado, de novo observando-o a uma distância quase segura, vi que estremecia. Não sentia febre, tampouco lhe constatei alguma dor comum. Como já vira em outras ocasiões, vislumbrei novamente o peso intenso de algo que lhe se insinuava quando no silêncio. Ele estava no silêncio. O silêncio vivia nele, ganhando dia a dia proporções indevassáveis.
- Esse estado é nocivo, muito nocivo. Como esse estado faz mal. Como esse estado vilipendia, avilta, vitima...
Exatamente aí ele entrou em rota de fuga. Não pôde ser seguido. De alguma maneira, por algum artifício, conseguiu bloquear qualquer observação que lhe alcançasse. Eu me lembrei de certo homem que gostava de se sentar em banco de uma praça, olhando as pessoas passantes no transcorrer das manhãs. Quase invisível, segundo ele mesmo dizia.
Lembrei-me do homem no banco da praça e, recordando de como se levantou certa vez desse banco para pisar o chão de ruas a lhe serem caminhos para a possibilidade de um almoço, pude rapidamente ver esse outro que me fugira há pouco descendo degraus de uma escada, mas sem poder estar com ele...


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