Nos dias de hoje, já nos disse Ivan Lins e Victor Martins, é bom que estejamos protegidos. Quem tem Fé, que siga a palavra a de Deus
. Quem não a tem, que se fortaleça em algo que lhe sirva de fortaleza. Mas... é bom que se proteja.Nem sempre será necessário oferecer a face, contudo, quase sempre será urgente o uso de prudência, ponderação, argúcia, poder de antevisão de fatos.Hoje que é quarte de Cinzas, os telejornais informam o número de mortos em acidentes e em crimes passionais ou não. Numa bebedeira entre amigos, um atirou no outro por motivo que ninguém soube informar.Bebiam social e animadamente suas cervejas e de repente...O poeta já falara que "Os jornais só publicam notícias ruins". Apesar de não concordar 100% com essa afirmação, afirmo que estou de acordo em, pelo menos, 99,5%. É que o restante quase ninguém percebe, quase ninguém lê.Por exemplo: um casal de namorados comemorou a dupla aprovação em vestibular da FUVEST. Bacana isso, não? Avalio, então, esse dia como de cinzas, sim, para muita gente; para muitas outras pessoas, as Cinzas serão ato religioso fervoroso e de muita devoção; já outras, também muitas, mais um dia de Carnaval, porque ninguém é de ferro, o santo é de barro, "Amanhã vai ser outro dia", "Não temos tempo de temer a morte", e trelelê... tratalá...HOJE JÁ SÃO 17Meu grande parceiro na música exclamou certa vez: "Tão breve é o tempo / correndo assim / Cavalo selvagem / Não tens arreio / Ninguém te domou"... É, estava certíssimo o grande Mattheus, e ainda está. A letra dessa música nunca morrerá, pois acompanha o tempo...E o que podemos fazer? Tentar segui-lo nos passos incertos: o futuro, somente se saberá quando... já não o for. Nesse instante, esse domingo do segundo mês do ano vai se encaminhando para a noite mais profunda. E o que fizemos? Cada um que faça a sua reflexão.Nos esportes, alguém ganhou e alguém perdeu; na política, nem os políticos ganharam, pois tudo o que fizeram hoje lhes retornará. Fora do país bombas explodiram; lá e cá, pessoas deixaram saudades eternas nas lembranças amigas e carinhosas dos que as amavam.Músicas, se fizeram ouvir; danças, se fizeram ver, assim como as peças, os filmes... E eu, não deixei consumir totalmente pelo trabalho..."Amanhã, vai ser outro dia / Amanhã, vai ser outro dia"...
NA TARDE DOS 20
Cravadas: 14h. E como era óbvio, ontem e antes de ontem foram... outros dias. Algumas páginas de calendário foram viradas e outras, arrancadas, com vontade semelhante à do professor da Sociedade... Mas a sociedade não tem jeito, não se educa para as mínimas ações cidadãs.
Enquanto rodavia pela Rodovia Santos Dumont, pelo menos umas cinco vezes, de automóveis que corriam à minha frente, quase era acertado por ponta de cigarro, lata de refrigerante, garrafa plástica de água. E eu me perguntei: Por quê?
Quando cheguei a meu local de trabalho, próximo a uma escola que atende a pessoas visilmente abastadas, abastadíssimas mesmo, não consegui ir adiante. Quem quiser rir que ria; até quando ficar literalmente parado, durante aproximadamente cinco minutos, esperando que o trânsito seja normalizado, ao serem desfeitas as filas... duplas... e triplas (Pode um negócio desses? E ainda tem gente que desce do carro e o deixa TRANCADO!!!).
Enfim, fui adiante e cheguei onde devia. E constatei que o dia fora diferente, enquanto a cidade adormecia igual: suja, entupida de automóveis sem trafegar, esburacada, com gente velha esmolando um trocado pro café e crianças azarando troco pro crack.
"Êta vida besta, meu Deus!"
NA CASA DOS VINTE E DOIS
O tempo impreciso dos homens está marcando 12h56m. Antes de ontem boa parte do mundo pôde parar sua correria insana. Delícia de permissão ao contemplamento de uma linda lua, redondona, cheiona, que se viu - e nos permitiu apreciar - sendo coberta pela Terra. Eclipse total!
Deitei meu corpo e cabeça em banco caseiro e soltei meu olhar para um céu lunar cercado de estrelas piscantes. Sem atrapalhar, algumas nuvens se divertiram com os olhantes, encobrindo, vez ou outra, a "bela da noite". Meu corpo foi beijado docemente pelo afável vento; meus olhos perseguindo a musa.
A belíssima frescura da madrugada me envolvia enquanto clicava aquele desaparecimento magistral. Raro momento; belo presente. Recebi-o com felicidade, e agradeci-o libertando-o dos pixels e expondo-o aqui, na web.
A vida tem momentos simples de vital relevância. Mas muitas vezes os desprezamos, os ignoramos, nem mesmo os queremos ver. "E a vida sempre nova acontecendo de surpresa / caindo com o pedras sobre o povo" - canta-nos Belchior.
Eu já versei em canção parceira com Matteus Viana:
[...] Corre-corre nas ruas / que é que foi, ninguém viu / pois já passou / E na luta diária / um sorriso perdido / se estraçalhou no chão [...]
Cada momento é inenarrável, indescritivelmente um único acontecimento inigualável, insuperável de tão esplendidamente um. Nada se repete; tudo, genuinamente, É!
JÁ NA TARDE DO VINTE E SETE
É engraçado (é?) como não conseguimos fazer os acontecimentos do jeito que gostaríamos, do jeito que preferiríamos, do jeito que amaríamos. Tão pequenos somos, tão ínfimos que as forças movedoras de nossos entusiasmos têm duração breve, não vivem o nosso tempo de vida.
Não é à toa que muitos de nós morremos antes da morte nos enlaçar e transportar para... Não lembro quem disse (perdoem a falha de memória, mas ela também tem dias e horas contados), contudo a frase é lapidar: Os sonhos morrem primeiro. Compreendam, se o homem vive de sonhos,...
Como estou sempre entre palavras - e torno público o meu amor incondicional a todas elas, quando utilizadas no momento preciso - sei, por ouvir, ver e sentir que elas podem nos levar até céus, ou nos fazer arder em infernos inenarráveis.
Na voz popular de Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil) o verso seguinte virou bordão: Porque o mal é o que sai da boca do homem... A frase original é bíblica, o sentimento de quem escuta o "mal" proferido por boca humana próxima, não. Mas... o que seria esse "mal"?
Sem filosofia, a transformação do amor pelo próximo em raiva, ódio, desprezo, indiferença veiculados como sentimentos de forte carga emotiva negativa direcionados ao... ex-amor! Uma boca que ama não diz impropérios; uma boca que ama não acusa sem argumentos de prova; uma boca que ama não ameaça. Mas, a boca que ama é... mera metonímia! O que se esconde por trás dela, então?
Tanto já se falou sobre a palavra, não é mesmo? Drummond, Bandeira, Moraes, Gullar, Cristina Cesar, Buarque, Eller, Gil, Veloso... e nós não nos damos conta dos ensinamentos que elas, em si, carregam como chama de significados. Que minha palavra seja precisa, usada sempre no exato instante.
NO SEGUNDO DIA 29 DESSE ANO BISSEXTO
Deu nos jornais: um jovem, em São Paulo, matou uma criança porque ela o irritava. Ele reclamou e foi atingido por ela na genitália. Estrangulou-a. Guardou o corpo dentro de sacos, em sua casa. O pai viu o corpo. Perguntou sobre o acontecido e o jovem contou. O pai chamou a polícia e revelou o crime. Seu fará exames para se saber de sua normalidade mental.
Foi-me difícil ler a notícia; cruciante está sendo escrever sobre o fato. O que me pergunto, em primeiro, é sobre os sentimentos dos pais da criança morta e dos pais do jovem criminoso. Duas angústias intensas que me persuadem a diferenças.
Também sou pai. Peço a Deus para nunca ficar em nenhum dos lados de acontecimento semelhante. Sempre é muito difícil estabelecer um julgamento coerente capaz de iluminar com clareza o posicionamento que devemos ter.
Em relação ao fato ocorrido em Sampa, é natural a revolta nos pais e outros familiares da criança falecida. A dor é profunda demais quando nos afastamos bruscamente de quem amamos, de quem queremos por perto, vendo alcançar vitórias na vida traçada com bênçãos divinas. Quando um laço tão forte quanto esse se parte - ou é quebrado - o ser que permanece fica incompleto. Jamais poderá ser o mesmo.
Também na família de quem cometeu a barbárie, seria natural a criação de um "cordão de isolamento" para proteger o filho. Sangue do mesmo sangue. A célula que significa a perpetuação daquele tronco familiar.
Mas não houve proteção? Mesmo em domínio de angústia profunda, invoco que o instinto paterno foi o da proteção. Proteção do filho, por reconhecer, através do ato cometido, a necessidade de que nada fosse escondido; proteção da família da criança, no sentido de que não se propagasse nela a violência sofrida em novo ato de violência; proteção de si e da sociedade, por acreditar que a entrega do filho à Justiça era o melhor a se fazer naquele instante.
Eu especulo; nada acima pode ser afirmado, a não ser pelo próprio pai denunciante. Mas, é certo que, com sua ação, no mínimo uma reflexão todos devemos fazer: Olhemos mais nossos filhos, pois precisamos compreendê-los, interpretá-los, advinhá-los, amá-los. A Paz de que o mundo precisa não está solta nele; deve existir livre dentro de cada um de nós!
ESTA LEITURA DEVE SER FEITA
A manhã havia sido como as anteriores mais recentes: um suplício de angústia em silêncio deliberado. Palavras de consolo chegaram e a perspectiva em relação ao restante do dia melhorou. Com a melhora, o relaxamento e o riso. Um alívio!
Porém, sem compreender como, a possibilidade de um conflito armado na América do Sul, decorrente da prepotência de alguns dirigentes radicais, trouxe de volta a sensação de impotência, de tristeza, angústia e solidão.
Mas, que droga! Eu deveria estar criando poesias, letras de músicas, fotografando borboletas em meu jardim, beija-flor nectando-se nas flores. Perdi tempo feliz de vida nessa amargura dispensável.
Pois veio o sol a pino e com ele chegaram meus filhos, da escola, perguntando como eu estava, como eu me sentia. Três abraços sorrindo pela alegria de voltar à casa. nem lembrei mais do que sentia antes.
Após um banho extrator de calor marcado pelo suor no corpo, à mesa posta, entre garfadas e colheradas - acho a colher mais atraente que o garfo, pelas formas que ambos possuem - a conversa amena, as histórias breves e pueris dos acontecidos nas salas de aula, a apelidação a professores (isso eu condenei, né?), a sugestão de pesquisa em trabalho de disciplina motivadora para o pesquisador.
O equilíbrio. A satisfação. Olhei meus filhos de maneira que não afirmo já ter olhado antes... Depois deixei-me perder nas emoções de pensamentos distantes, contudo bem prazerosos.
Almoço findo, meus filhos foram rir um pouco com a televisão, até a hora em que se acostumaram a abraçar os livros. Eu vim parar aqui, para escrever o que já está sendo concluído, dividir com vocês essa sensação positiva de que almoço em família faz bem, que abraço de filho é excelente para quem carece de reanimação.
E hoje já são 4, do mês 3.
MUDANÇA DE FOCO
Recebi orientação para deixar de lado, tentar esquecer os países sul-americanos que estão à beira de um conflito bélico. Entendi o porquê da sugestão e, de fato, me vi fugindo de qualquer notícia, comentário, imagem relacionados ao tema. E estou muito bem. Obrigado!
Contudo, o que me aparece no cérebro, por meio de sons e imagens? Brasileiros com viagens abortadas em aeroporto espanhol; espanhóis com permissão de entrada no Brasil negada. O mundo é assim: a Faixa de Gaza, ou o Haiti, ou o Paquistão, ou Kosovo, ou... pode ser em qualquer lugar, pode ser aqui.
Ninguém nunca soube (ou eu nunca soube se alguém disse) e Drummond nunca disse que a "pedra" no caminho tinha sido produção humana. Já reparou? Onde o homem está o distúrbio se faz presente! Arrogância, prepotência, auto-estima exacerbada, poder ou o desejo de tê-lo, enfim, são condimentos que temperam a vontade humana do sentir-se superior a.
Tempo perdido! O sopro de vida não deveria contemplar aridez eterna naqueles neurônios desenvolvedores do mal. O pior: saber que muitos o propagam afirmando a busca de melhor vida para o seu povo. Arre! Quanta pequenez.
Então, respiro fundo e mudo, de fato, de foco. E me delicio ao saber de exposição plástica de Gurgel Mendes em galeria daqui de Fortaleza. Gurgel Mendes passou bom tempo sem expor, sem nunca abandonar sua arte. No tempo do ostracismo, viveu experiências várias, o que determinou fases diversas em sua pintura. já me disseram que os novos quadros estão mais leves, com fluição de imagens mais definidas para o público.
Vou conferir. O convite a mim veio dele próprio, e eu não vou deixar de seguir o chamado. Novo contato, nova aproximação. Em paz, sem qualquer conflito. Vou levar minha câmera e tirar fotos dos quadros (caso ele permita) e com ele. Fará bem a nossos espíritos voltados para as artes. Elas que fazem muitos homens imortais!
E hoje são, já, 7, véspera do Dia Internacional da Mulher. A todas que passarem por aqui, meus parabéns.
UM JOGO DE PALAVRAS
3º período, aos treze
Calma, rapaz! É o que tenho me dito bastante nos últimos dias. Afinal, para que a pressa mesmo? Posso, por acaso, desatar nó em pingo d'água? Tenho engenharia para mudar os caminhos para os burros não darem n'água? Tenho possibilidade de alcançar sem esperar?
Perguntas, apenas... explosões de um nada à procura não de tudo, mas de muito... "Sabe você o que é o amor?" Não sabe? Nem sei! Os humanos, por suas distinções de raça, credo, cor, ideologia... têm criado maneiras próprias de viver, pensar, sentir...
Já ouvi - e sei que muitos também - se dizer que "amar" É só olhar / depois sorrir / depois gostar... Simples assim? Pois então, que olhemos mais; que sejamos mais sorridentes; que gostemos mais. Calmamente, pacientemente, humildemente, sinceramente...
Feito a flor que brota sua cor na naturalidade da manhã. Feito o pequeno pássaro que, com bico longo, suga o néctar beijando a flor. Feito o rio que, sem o sofrimento por resíduos ou represamentos, corre certo e ordeiro seu destino de transbordante vida, até com régias. Vitórias!
"O pensamento vai mais longe?" Calma! Rapaz, não tenha pressa, porque sentir não carece de tempo nem de lugar, posto que se põe em todos os passos, em todas as inspirações, em todos os respingos de chuva, em todo olho de que brote a saudade.
Não, não tenha pressa... A saudade nunca se despede de uma vez para sempre...
INDAGAÇÕES
"Por quem os sinos dobram?" Não sei! Sei que o tilintar deles desperta significados às vezes não compreendidos.
Há pessoas que afirmam ouvir sinos durante alguns atos de amor. Isso semelha muito ao agredido que declara ter vistos estrelinhas! Em ambos os casos, a intensidade foi a constante.
Como o bicho homem é estranho, imprevisível, já se ouviu de muitos: "Pancada de amor não dói!". Afirmo: o mesmo amor dobrador de sinos pode estrelar a visão de alguém.
Os outros animais são simples até na complexidade possuída; nós somos complexos até em nossa simplicidade. O que descobrimos de nós mesmos quando nos investigamos? "Sim e não" são iguais a "não e sim", estabelecendo a lógica de nossas incertezas.
Dialeticamente, quanto mais subimos, mais perto ficamos do momento da descida. Quanto mais encontramos, maior a possibilidade de perder. Quanto mais cremos, maior a possibilidade de duvidar. Quanto mais somos, bem mais fácil deixarmos de ser.
E assim seguimos, julgando vislumbrar um futuro, porém tateando paredes invisíveis, portanto inseguras. E desse modo prosseguimos, certos de que deve sempre haver luz em fim de túnel.
Engraçado... hoje o dia despertou em chuva, e da janela do meu quarto descobri uma escuridão de noite...
O período ainda é o terceiro, mas a casa já é a dos vinte e seis. Aqui não faz tanto frio!
HUMANOS
Creio que somente por causa do latim podemos aceitar que o homem é "humano". Havia prometido e me prometido evitar os assuntos tristes, funebres. Mas o bárbaro bicho homem não quer dar descanso. Eu estava bem, bem tranqüilo, bem bem apaixonado, bem bem bem redescobrindo o lado gostoso da existência... Aí relatam o caso da menina defenestrada pela janela.
Barbárie! Bicho, o homem! Que humano que nada!
Como tenho amor forte, verdadeiro sentimento, por todos os meus filhos, não consigo encaixar em minha "cachola" um acontecimento desses. Uma criança é um poço de ensinamentos puros aos adultos já corrompidos pelos caminhos que determina para sua vida.
Uma criança é leve feito pensamento bom. Por isso ela dança sem saber dançar; por isso ela canta sem saber cantar; por isso ela encanta sem saber que está encantando.
Criança é doce feito as lembranças que se possa ter da infância, em um tempo nos quais pai e mãe seguravam a mão do filho e punham-se a passear pelas ruas seguras da cidade com bons calçamentos e sorrisos amigos.
Criança é meiga feito boa intenção. Ela acaricia sem maldade; ela beija sem malícia; ela abraça porque se sente feliz e protegida; ela sorri porque intue "que o instante existe" e que sua alma "está completa", quando experiencia o bem.
Qualquer criança é mais sábia que qualquer adulto! Ela, por natureza, quer brincar, divertir-se, divertir o outro, divertir-se com o outro, sonhar, devanear, pintar o sete - e o oito... e o nove... e o dez... -, olhar a lua, deslumbrar-se com as estrelas, correr do mar (pra depois afoitar-se nele), nadar nos rios, perseguir os peixes...
Por natureza, toda criança está destinada ao crescimento. Mas elas não deveriam ficar adultas... nesse sentido de que um adulto está predestinado a "endurecerce siempre", para morrer velho e abandonado pelas pessoas.
Não, criança não deveria deixar de existir nunca... principalmente dentro da alma daqueles que simplesmente cresceram com o fim de se tornarem adultos.
O calendário andou. Hoje já somamos quatro dias do primeiro mês em A.
E A GENTE NEM PERCEBE...
Os fatos não têm acontecido, têm nos atropelado, passado por cima e nos deixado estendidos em nossa estrada sem sequer dar uma olhadinha para trás. Contem: quanto dias faz que não venho aqui, falar a vocês?
Na ausência, estive em cidade outras, passei por outras tantas e lugarejos vieram me beijar os olhos, com a alegria das águas enchendo rios e verdificando o que amarelecido estava, o verdadeiro amarelo queimado, quase cinza. Ah!, o sertão; fênix que renasce do chão.
Sertão à parte - que aprendi a levar comigo, como sugeriu Rosa -, minha Fortaleza continua "bela": as áreas de risco, cheias de gente dentro d'água - por causa das chuvas?; as avenidas, bem iluminadas - quase uns 40% delas -, afundam, lama e buracos em ação litigiosa por um espaço a mais; as pessoas mais humildes, ... bem, as pessoas mais humildes... não contam na Fortaleza "bela".
Mas, então, o que é que conta?
Me contaram que o show de Roberto Carlos em comemoração a mais um aninho de Fortaleza foi belo... e caro! Não me contaram, assim, de maneira categórica, de onde saíram os milhões que ele, seus músicos orquestrados e marqueteiros levaram daqui. Estou sendo sincero! Não me contaram isso.
Também me contaram que o evento nada teve a ver com esse ano de eleição. Da mesma forma, ou, com a mesma inocência, Dilma Houssef usou a palavra "comício" em festividade que deveria ser apenas... festividade, congraçamento entre pares (por favor, não leiam "párias").
É irritante e estupidamente engraçado (faltou-me uma palavra certa para o que quero dizer) como aqui em nosso país as coisas costumam acontecer meio sem querer: desigualdades econômico-sociais; atos de corrupção; censura jornalística; crimes de morte; crimes contra a natureza; crimes contra o erário público... Parece que tudo é feito como obra do acaso.
Assim, como esse texto, talvez... Quem sabe não vim aqui por acaso... Quem sabe não falei o que se lê acima meio a esmo... Quem sabe, até, eu esteja até enganado e nada disso esteja acontecendo agora mesmo, nem eu tenha escrito a palavra até três vezes...
E hoje faz somente um dia que festejaram o famoso esquartejamento de um determinado personagem que quis fazer uma Inconfidência...
CHUVA NA MADRUGADA
Quando criança, ouvi muitas vezes minha mãe dizer que desligássemos toda a eletricidade de casa quando estivesse chovendo forte. Eu não entendia bem o porquê, e estranhava o procedimento da luz à velas. Acho que meus irmãos também estranhavam. Meu pai, sempre elegante e cordato com a esposa, desligava a chave geral e acendia as velas. Fui crescendo com medo de relâmpago e trovão, e não afirmo que já o superei.
Mas vejam o que há nessa madrugada: enquanto fico aqui dando corpo a este texto, na minha janela com vidros a noite chora, escorrendo as lágrimas de um céu fechado de nuvens barulhentas. Continuo o texto, não quero parar, apesar de perceber pela visão periférica alguns brilhos rápidos, seguidos com lentidão por barulhos abafados e recordadores, vindos lá de cima.
Encaro a madrugada como quem deseja cumprir um desejo. Não sei a que horas ele se cumprirá - nem se será legitimado. Mas a noite entremeada ao dia ainda escuro vai avançando implacável, e a solidão da chuva derrama gotas de anseios de que o dia nasça, raiando luz sem sustos, clareando os caminhos sem sobressalto qualquer.
Fico olhando as gotas do céu beijando com estalos a vidraça da janela, e largo meus olhos escorrendo pelas veredas que vão-se abrindo - respingos quase calados dos desejos e pensamentos rondando com o vento que sopra nas árvores.
Estou em meu quarto. Meus olhos, na rua, agora encharcada de água e reflexos de luz. Meus ouvidos, prescrutam os receios da infância. Meus desejos e pensamentos...
Agora já estou no três, e no mês das noivas... e das mães...
NOS TEMPOS DO 2010
PALAVRAS DE RETORNO
Eu nem havia percebido o quanto, mas o tempo passou... E já não sou o mesmo - estou dentro do óbvio.
O instante em que estou é exatamente aquele que me diz a certeza de que volto, aos poucos, a esse caminho de vida tecido entre palavras-sopros, vida abundante de tão silenciosa e guardada.
Eu e você leitor dessas linhas somos de alguma forma o que as palavras nos permitem ser; somos o que pensamos, o que dizemos, o que sonhamos - as palavras sempre nos pressionando para o profundo delas, mesmo que não as encontremos enquanto sentidos fáceis e de rápido entendimento.
Apenas somos - mesmo que não saibamos.
E estamos em 2010! Quanto tempo?
11 DE JULHO DE 2011
Usando um clichê, "longo e tenebroso inverno". E que inverno! E quão tenebroso!
Eis que de repente volto, movido não sei bem por qual vontade não bem nítida. Um chamado. Um novo chamado. De mim mesmo por mim, eu que me construo enquanto palavra.
A expressão no texto é a voz de muitas expressões de muitos eus em mim. E como eles querem falar; o eu maior é que muitas vezes silencia o alvoroço, por isso muita vez o silêncio é que reverbera. E fico sem saber de mins.
Eus somamos as informações chegadas pelas sensações. E nos construímos. "Somos o que podemos ser". Então a luta entre o desejo e o que a sociedade impõe.
27 de dezembro de 2011
Novamente uma grande ausência. Que me seja permitido me encontrar aqui com mais frequência. O tempo sempre me furtando tempo para o que é de gosto, alimento-prazer.
Mas... mais um ano finda, esse 2011 tão mais apressado que o 2010. Dá para imaginar como será o 2012, já tão próximo: não se poderá correr menos! Os dias são assim! Não somente os meus; assim caminha a humanidade...
Transitando pela cidade, tão fragilizada e quase em nada bela, cada vez menos Fortaleza, sempre e sempre mais e mais metrópole organizada para estrangeiro ver (e morar, e construir, e impor desejos, e imperar sobre os nativos), desenham-se aos nossos olhos uma transmutação feroz.
Há alguns muitos anos, era comum se dizer e se ouvir que em cada esquina da cidade-sol-o-ano-inteiro existia um botequim, um barzinho, onde se podia fazer arder a garganta com uma caprichada talagada de boa cana, em pé, rente a um balcão esplendorosamente marcado pelas tantas mãos que se lhe espalmavam, amalgamando suor e poeira. O tempo brincava de roçar a vida leve das pessoas, sussurrando (com a cumplicidade do fresco vento arrastando faceiro folhas pelas calçadas e ruas calçamentadas) prazer na pele, no ar, na existência. Devagar, o mundo andava... Ai, que vida boa, meu Deus!
Hoje, em quase toda a extensão de ruas inteiras, o que se vê é a intromissão dos veículos automotores - tantas marcas, tantos tipos, tantos gostos -, cujos rompantes marcam asfaltos com intolerância e bizarria. Imperam pelas ruas, apropriam-se delas; exigem para si atenção desmesurada, subjugando o olhar desmedidamente medroso, acabrunhado, atônito de quem sabe para onde quer ir, mas nem sempre tem nítido o percurso mais seguro a desbravar.
Dois tempos: passado e presente. É possível se imaginar o futuro - que já está se achegando, se avizinhando, se enraizando, se imiscuindo...
03 de janeiro de 2012
Entre o justo e a intransigência.
Pessoas correm pela cidade, sem saberem bem qual caminho seguir, meio que sem rumo. Comerciantes fecham as portas recém-abertas de seus comércios. Canais de televisão digladiam-se para levar aos possíveis telespectadores as imagens mais impactantes sobre o tema prioritariamente em pauta.
De repente, o pânico! Um medo não medo apenas, de tão intenso, vai tomando conta do racional das pessoas, agora já somadas ao universo coletivo. Pavor emergindo das calçadas com andanças apressadas, passos incertos e trêmulos seguindo, quiçá, para seu abrigo maior: a casa, o lar, o aconchego, a paz.
Enquanto não, a insegurança. O sentimento de temor por não ser possível prever uma situação adversa - a tranquilidade de volta - em tempo de acalmar o espírito antes de uma mal maior.
No centro de tudo, o PODER!
A partir dele, o CAOS!
04 de janeiro de 2012
Ao que tudo indica, o "justo" suplantou a "intransigência". Sem medo de errar, saiu vitoriosa a população que apenas deseja viver nessa cidade necessitada urgentemente de beleza, de tranquilidade, de paz; saiu ganhador o estado necessitado de trabalho, crescimento, saúde, segurança... paz. Entre outros desejos, talvez mais simples, porém não menos legítimos.
As calçadas das ruas da cidade, hoje, já cedo da manhã, foram pisadas por passos menos temerosos, mais cientes de si e de para onde deveriam seguir. As feições das pessoas já não expunham traços, rugas de pavor, porém, e até certo ponto, um ar de quem se sente tranquilo. Seguro.
Sem exagero, foi isso o que se viu desde que o sol resolveu acordar acordar a cidade ainda sem forças, com motivos incrédula de que tudo estaria voltando à normalidade. Aos poucos, tudo foi, de fato, voltando ao normal do dia a dia; quando se vai reconhecendo nas pessoas, nas ruas, nas praças, nos transportes aquele cotidiano palpável, a acomodação vem.
Acho que é assim que a cidade recomeça sua trajetória hoje, depois de seis dias de aflição, medo, pânico, terror. Acho que é assim que a cidade vai continuar existindo - sobressaltada entre ações marginais e a alegria de reconhecer em policiais agentes da lei e da ordem.
Mas com um ganho inquestionável: a "intransigência" e o "autoritarismo" devem ser combatidos com inteligência, pertinácia e justiça.
26 de janeiro de 2012
A notícia que nos chegou desde ontem do Rio de Janeiro mais uma vez foi desagradável: supostamente uma explosão subterrânea de gás fez ir ao chão simplesmente três prédios no centro da cidade.
Não se falou até esse instante sobre mortes; mas há "desaparecidos". Assim, já se sabe que, muito além de danos materiais, muitas famílias estão nesse momento sofrendo a aflição de não saberem em que condições encontrarão os seus "desaparecidos".
O que chama muito a atenção é o fato de que já há alguns anos a Cidade Maravilhosa tem sido surpreendida por explosões subterrâneas devido a vazamentos de gás por decorrência de falhas em tubulações. Nada de tão grave, porém, havia ainda acontecido.
Agora a preocupação com esse sistema de fornecimento de energia certamente se ampliará. E já não será sem tempo; a segurança da população do Rio de Janeiro merece essa atenção especial dos governos constituídos.
28 de janeiro de 2012
Não se tratou de uma explosão, como se especulou na noite em que três prédios foram abaixo no Centro do Rio de Janeiro. Hoje se fala que possivelmente o prédio maior, de vinte andares, sofreu abalos estruturais decorrentes de reformas em andamento e caiu, projetando-se sobre os outros dois que também ruíram por terra.
Independente do motivo do desabamento, houve mortes e há desaparecidos. E enquanto famílias choram perdas confirmadas e outras se afligem por não encontrarem um ente querido, uma indagação é feita por quem precisa trabalhar ou morar em construções verticais: "Até que ponto estamos seguros?"
Difícil saber. Há prédios que são erguidos em locais nos quais o solo não é favorável. Outros são levantados onde o solo é bom, mas não se tem um adequado projeto de engenharia. Outros ainda, mesmo construídos em bom terreno e com excelente projeto de engenharia, ficam a desejar em sua segurança, pois na hora da escolha do material alguém entende que pode lançar mão de algo com menor qualidade - e inclui para seus gastos pessoais parte do dinheiro que serviria para a aquisição ideal dos produtos a serem usados no empreendimento.
Seja qual for o motivo, o certo é que é muito duro saber que pessoas morreram porque outras falharam onde não poderiam falhar. À distância, muitos nos comovemos com o fato; quem faz parte dele sempre tem o que perder; mesmo sobrevivendo, sempre haverá um vazio para superar.
09 de novembro de 2012
Algumas poucas palavras
Um texto em cor verde, um verde de esperança. Esperança de que sejam neutralizadas as forças de violência que operam em nosso país, abriguem-se elas onde se abrigarem (presídios, cadeias em delegacias, gangs de rua, crime organizado em morros e favelas, instituições públicas não cumpridoras de seu papel social...).
Há de se entender com urgência porque governantes tanto prometem, quase nada cumprem; há de se criar, urgente e legalmente, condições para que a população possa decidir, de maneira rápida, certeira, verdadeira quem pode e quem não pode permanecer lhe representando, após qualquer eleição, para qualquer cargo.
A violência que se expande pelo país está ceifando vidas inocentes sem a devida preocupação do Estado brasileiro. Durante as recentes eleições municipais, mais uma vez diversas promessas enganosas foram oferecidas à população, dentre elas, soluções de combate à violência; uma boa parte dela nem compreendeu o que estava sendo "doado" - para conforto dos prometentes.
A violência cresce à mesma proporção em que as condições de vida pioram para a maioria das pessoas. Não adianta se dizer que hoje há maior distribuição de renda, que há mais pessoas alimentadas, afastando-se da linha da miséria extrema, que há mais pessoas em habitações melhores etc. etc. etc. Pessoas inocentes estão morrendo e o Estado brasileiro não consegue combater a violência.
Por quê? Exatamente por quê?
O Estado brasileiro não está combatendo a violência!
Um comentário:
Parabéns pelo Blog, amigo! Textos concisos e inteligentes, que fazem jus à sua pessoa.
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