domingo, 30 de novembro de 2014

A LEITURA EM PASSOS COTIDIANOS

Caminhar
Fonte: http://obancomental.com/2013/03. Acesso em 30/11/2014.



Meu querido amigo Kelsen Bravos é uma daquelas fundamentais pessoas tão profundamente preocupadas em promover a leitura que certamente possui diversas histórias a contar em torno de sua vivência na busca dessa realização. Não é à toa que ele sempre está envolvido em cursos de formação de contadores de histórias; na prática da contação; além de marcar presença, com galhardia, em saraus literários.
É magnífico ver o brilho em seus olhos quando ele está em ação promotora da leitura entre pessoas necessitadas dela e com vontade de desenvolvê-la, quando vê que alguém a alcançou e a dominou. Kelsen Bravos é incansável promotor da leitura e da cultura em geral (veja-se http://kelsenbravos.blogspot.com.br/), e lança mão de diversos meios para que isso aconteça. A realização de saraus está sempre em sua pauta.
Marcos Sampaio, também querido amigo, é jornalista bastante envolvido com arte e cultura. E também com leitura! Ah, como é enredado com leitura! É tão amplo esse enredamento que já não sei se realmente é ele que se abarca da leitura, ou se é ela que cotidianamente o envolve, literalmente. De tal maneira ficam ambos imbricados, que, insisto, não sei quem procura o outro, quem segue os passos do outro.
Possibilidades de leitura, todos encontramos em qualquer lugar: em casa, nas livrarias, nas bibliotecas, nas ruas... Isso é fato. E em relação ao Marcos Sampaio, leitor inveterado, nesses espaços, literalmente, a leitura está sempre com ele (ou ele com ela, ou ambos um com o outro). Inclusive nas calçadas das ruas por onde caminha.
De minha parte, leitor, quando caminho pelas ruas, observo o trânsito caótico, as pessoas em suas idas e vindas, apressadas ou não, os estabelecimentos comerciais, os semáforos, a redução das árvores nas vias, o quase total abandono das praças públicas, a incontestável redução dos espaços disponíveis ao trânsito das pessoas, em favor da circulação dos veículos automotores, as mudanças arquitetônicas por que passa essa cidade, entre outros pontos de observação.
Quando caminho, meu olhar se concentra na cidade; o de Marcos se entretém... nas palavras! Isso mesmo: meu querido amigo Marcos Sampaio lê livros enquanto caminha pelas ruas da cidade. A cada passo, quantas situações impressas nos livros consegue depreender? Nem imagino. Mas bastam alguns minutos de solta conversa com ele para termos ciência de estarmos diante de alguém de cultura espetacular, adquirida em tantas obras já lidas, das mais diversas áreas do conhecimento, mas principalmente dos campos da literatura e das artes.
Marcos, quando deixa as calçadas e se põe dentro de algum transporte público, não abandona sua leitura. Em pé ou sentado na condução que o leva para o trabalho e de lá o devolve para sua casa, sua visão permanece concentrada em páginas e páginas de livros em devoração.
Quem conhece Marcos, sabe dessa sua característica: ler enquanto caminha, enquanto viaja, em pé ou sentado, em transporte público. Quem o observe, diariamente, em seu caminho pelas calçadas, também será conhecedor dela, a ponto de reconhecê-la e de revelá-la de maneira surpreendente.
Foi o que aconteceu entre Marcos e Seu Dedé, certa manhã.
Seu Dedé é um senhor aposentado. Costuma ocupar seu tempo bebericando a “bruta” todo dia, o dia todo. Já cedo da manhã, caminha – camisa no ombro, bermuda jeans, sandálias havaianas nos pés – de sua casa até um botequim de sua preferência, próximo a seu lar, e ali se senta em um banquinho rústico, de madeira, enquanto espera a abertura do estabelecimento.
Durante o tempo em que espera a janela do bar ser aberta para pedir ao proprietário e amigo seu primeiro “burrinho” do dia, Seu Dedé vê a vida passando diante de seus olhos, servindo-se, ainda, dos beneficentes raios de sol matutinos. Seu Dedé observa a vida em seu ritmo inexpugnável, analisa o trânsito de veículos, contempla pássaros e árvores em seu redor, olha as pessoas que passam, aprecia o caminhar cotidiano entre letras de Marcos Sampaio.
“Aprecia” deve ser forma verbal bastante adequada para a visão de Seu Dedé sobre o hábito leitor de Marcos.
Tanto que, em certa manhã, para surpresa de meu amigo jornalista (que jamais atinaria estar sendo observado em suas concentradas leituras), Seu Dedé, bem à vontade em seu cantinho de bebericação, interpelou o jovem e compulsivo leitor, naquele exato momento dispensado de qualquer leitura:
- E aí, rapaz, cadê o livro?
Marcos Sampaio não me declarou a resposta dada a Seu Dedé. Mas isso não importa. O que tem relevo é o fato de se saber que uma pessoa simples, teimosamente adepta rotineira do consumo de uma cachacinha, a quem não se costuma dar muito crédito por causa de tal costume, analise os movimentos na cidade, aprecie a resistência da natureza, vislumbre as pessoas que passam, certamente fazendo de seu dia, mesmo sem o saberem, um motivo a mais para continuar existindo.

Chico Araujo
30/11/2014


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

EDUCAÇÃO COMO FORMAÇÃO E EMANCIPAÇÃO

É como penso: a educação é primordial para que qualquer nação vislumbre seu crescimento social e econômico, também político. Por meio dela, vislumbro que muitas conquistas podem ser asseguradas à sociedade, que, educada, saberá se tornar mais participativa, reivindicatória daquilo que lhe cabe por direito, ao mesmo tempo em que se verá mais correta em relação a seus deveres e obrigações.

Leia-se a matéria a seguir.


http://blog.planalto.gov.br/dilma-a-educacao-e-hoje-a-prioridade-numero-1-do-nosso-modelo-de-crescimento-com-inclusao-social/trackback/ 

sábado, 15 de novembro de 2014

BREVE REFLEXÃO POÉTICA SOBRE O COTIDIANO

Não direi muito. Pretendo que o poema fale por ele mesmo, repercutindo, de alguma maneira, em você, caro leitor. E desejando que uma "atitude responsiva ativa" se lhe desperte, silenciosamente ou não. Para o "não", detenha-se um pouco no espaço para comentários. Até breve.

CANSAÇO

há um cansaço
o sono não mata
o cansaço que corrói o sono
fica o peso
das horas
dos dias
das coisas

há um cansaço
e os poetas partem
deixando a vida com menos tono
fica o vazio
das palavras
dos versos
das visões

há um cansaço
e o dia a dia nos aperta
tornando a existência um pulsar menos humano
fica a dúvida
do que são as pessoas
do que é o homem
do que somos nós

Chico Araujo
16/11/2014

domingo, 9 de novembro de 2014

APÓS O DIA "D", MAIS DE DRUMMOND

Carlos Drummond de Andrade foi poeta de conexão direta com o cotidiano, também enveredando por questões místicas, criando poemas que nos chamam constantemente à reflexão sobre nossa condição humana, sobre nosso ser e fazer em sociedade, sobre nossa condição existencial. Creio que vale a pena ler e reler "José", poema de Alguma poesia, e refletir sobre seus versos. 

Após a leitura, que tal ouvir o poema, cantado na voz inconfundível de Paulo Diniz? 

Eis o endereço: http://www.vagalume.com.br/paulo-diniz/e-agora-jose.html


José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?