domingo, 28 de fevereiro de 2021

"Quero falar de uma coisa"... e essa coisa é música, uma de minhas paixões

Por Chico Araujo


De que a música tem o poder de mexer com nossos sentimentos, com nosso espírito, nosso estado emocional, creio que ninguém tenha qualquer dúvida. Ela pode nos alterar o humor, tirando-nos da tristeza e nos pondo em alegria; em sentido inverso, pode nos levar a alegria, lançando-nos ao estado de tristeza. Também pode nos deixar tranquilos, acalmado o espírito, ou nos conduzir a reações de muito entusiasmo, de muita empolgação, conforme se observa, por exemplo, em festividades como o Carnaval, ou um show de Rock.

Com o meu tempo de vida e as minhas experiências nela, vivi diversos momentos distintos em que a música me trouxe estados de espírito diferentes. Estive alegre e fiquei triste, estava triste e me encontrei alegre; tive momentos esfuziantes em festas carnavalescas e assistindo a apresentações de bandas de rock, também ouvindo-as. Tenho, também, consciência de que toda pessoa permissiva a alguma proximidade com a música terá experiências várias a partir dela.

Já fui tocado por ela em bares, em teatros, na assistência a DVDs e a apresentações televisivas e sei que, nos meus momentos de cantoria em palcos (TV, bares, Teatro, Saraus...), consegui, a partir do meu canto, despertar reações nas pessoas (Boas? Más? Somente elas poderão dizer). As reações sempre existem, porque estamos sempre suscetíveis à música e aos efeitos que elas nos causam.

Na quinta-feira passada, dia 25 de fevereiro, fui surpreendido com múltiplas reações em meu estado de espírito por audiência minha à apresentação de "@Lgoritimo", de Thiago Almeida, gravada em teatro no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura no início de fevereiro e transmitido pela Plataforma YouTube. Já no início, a música realizada pelo artista me despertou a memória, me trazendo quase que imediatamente as composições de Rick Wakeman e Kitaro, exatamente pela habilidade e competência de Almeida no tocar os instrumentos de que se serviu para fazer seu som.

O cearense, no espetacular evento, demonstrou seu domínio e capacidade inovativa sobre os instrumentos, além da inserção de sons "não musicais" advindos de produtos da tecnologia de telefonia celular, incorporando diálogos e vários outros estímulos sonoros existentes no ambiente do WhatsApp e em outros ambientes do mundo digital.

A maestria demonstrada por Thiago Almeida na execução das músicas esteve associada aos tempos que estamos vivendo: pandemia, isolamento social, sobrevivência difícil, existência no mundo digital, principalmente nas redes sociais. A gravação foi feita em teatro, conforme dissemos mais acima. Apesar disso, Thiago Almeida não se postou no palco oficial do espaço, mas posicionou-se entre a plateia e o palco e, para mim, nessa atitude, criou uma metáfora para todo e qualquer artista, a da não presença deles nos palcos, impedidos pela existência da pandemia.

Mas se os artistas não estão nos palcos, onde podem ser encontrados? No posicionamento de Thiago Almeida - há imagem que o revela em frente ao palco, olhando para ele -, a situação vivida por todos põem exatamente todos no mesmo lugar, uma espécie de lugar de ausência, um lugar não ocupado. Imagens mostram que o músico está bem próximo do lugar da plateia, mas ela também não está; vê-se, em filmagem realizada, a ausência total do público (obrigatória nesse momento histórico), o qual é sinalizado nas cadeiras pela deposição, nelas, de objetos representativos dele.

O som, as competências instrumentais, a iluminação, a filmagem fazem de "@Lgoritimo" um espetáculo inquietante e prazeroso, a um só tempo alentador e questionador do que estamos vivendo como sociedade.

Se você não viu, ou viu e quer rever "@Lgoritimo", acionando o link <https://www.youtube.com/watch?v=zYQGTOZrE9o> terá seu acesso garantido. Feliz espetáculo!


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